Amizade Oscar Wilde

Escolho os meus amigos não pela pele ou por outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não me interessam os bons de espírito, nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero o meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho os meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também a sua maior alegria. Amigo que não ri connosco não sabe sofrer connosco. Os meus amigos são todos assim: metade disparate, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade a sua fonte de aprendizagem, mas que lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade de infância e outra metade de velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois vendo-os loucos e santos, tolos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril. Oscar Wilde

Foda-se por Millôr Fernandes

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me. "Não quer sair comigo?! - então, foda-se!" "Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!" O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. "Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"? "Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática. 2 A Via Láctea tem estrelas comó caralho! O Sol está quente comó caralho! O universo é antigo comó caralho! Eu gosto do meu clube comó caralho! O gajo é parvo comó caralho! Entendes? No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!". Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem. O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida. Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo: "Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!". O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...) Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos. Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça. E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"? Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai levar no olho do cu!"? 3 Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!". Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!" Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!” Então: Liberdade, Igualdade, Fraternidade e foda-se!!! Mas não desespere: Este país … ainda vai ser “um país do caralho!” Atente no que lhe digo!

Debates Políticos nas TVs, Sócrates versus vários.

Estou a ver o Noticiário das 13h, Jerónimo Sousa, Paulo Portas e o Francisco Louçã fazem-me lembrar uma estória que aconteceu quando eu era criadora de cães, Labradores Retrievers e Rafeiros do Alentejo esta passou-se com um Rafeiro do Alentejo que levou uma tareia do filho que o deixou praticamente morto, saiu dessa luta tristíssimo, cabeça baixa, rabo entre as pernas, arrastando-se para a box do canil, onde se enroscou práticamente morto, chorei de o ver tão arrasado, com a sua dignidade tão rebaixada, de repente tinha ficado pele e osso, morto, só o coração batia! Levei-o ao veterinário para o coser e lhe receitar os antibióticos etc. Passei a noite ao lado dele, muito preocupada, tratando-o e dando-lhe muito mimo. No dia seguinte já mais recomposto, mas ainda muito combalido, quando sentia o filho a aproximar-se das grades da box, atirava-se a elas, enfurecido, a ladrar, a rosnar e a morder, de peito cheio, como quem diz: -" agarrem-me senão eu mato-o !!!". É aqui que sinto as semelhanças desta estória com os nossos politicos nos debates. José Sócrates 1º Ministro num governo, segundo eles cheio de "buracos", eles estão no debate frente a Sócrates e não dizem nada senão disparates, balbuciam "coisas"... Não atacam, não se defedem... Perdem oportunidades atrás de oportunidades mas no entanto, no dia seguinte, nos comícios - "agarrem-me senão eu mato-o..." atacam José Sócrates, atiram-se a ele com unhas e dentes, dizem mal, praguejam, pergunto eu : mas afinal que politiqueiros é que nós temos??? Só tiro uma conclusão disto tudo: realmente José Sócrates está a fazer um grande trabalho, tudo o que eles cá fora dizem é mentira e querem-nos é enganar a todos !!! É esta a moral da estória ou da história dos nossos pequenos politicos no nosso pequeno País. Helena Corado

TVI " mulher sadia come noku todo o dia".Já nada me espanta!

Hoje 3ª feira, dia 1 de Setembro, liguei a TV, estava na estação da TVI, programa da manhã, eram por volta das 10h e qualquer coisa e ouço um homem que cantarolava (não se pode chamar cantor, nem se pode dizer que cantava) acompanhado por duas raparigas semi-despidas a abanarem-se frenéticamente ( não se podem chamar bailarinas, nem se pode dizer que dançavam), mas não acaba aqui, isto já é o normal, é a CULTURA que neste momento, as Campanhas ELEITORAIS contratam para os seus comícios... Para alegrar o povo. Mas adiante, o tal homem cantarolava uma coisa (também não se pode chamar música, nem se pode dizer que tinha uma letra)que dizia o seguinte: - " Mulher sadia come noku todo o dia..." aquela coisa que aquele homem cantarolava resumia-se a uma repetição, também ela frenética desta pequena frase. As raparigas semi-despidas traziam na mão um pseudo pacote de cereais de marca "Noku" e um garfo, que o tal senhor explicou que os ditos cereais se comiam com um "garfodestes", distribuiu pela plateia o seu CD e o "garfodestes" e anunciou a "coisa" seguinte, depois ia cantarolar "o vacagálo", que era o nome por que era conhecido desde que a sua vaca acasalou com o seu galo e nasceu o filho vacagálo, não esperei para ver mais. A minha indignação é enorme, num tempo de férias, em que as crianças de todas as idades estão em casa, a ver TV, ás 10h e pouco da manhã - " mulher sadia come noku todo o dia" com um "garfodestes"ou então "vacagálo". Não há respeito, não há pudor, não há moral, nos produtores e directores do canal da TVI ????? Será que eles gostam que os filhos deles, as mães deles, as mulheres deles , os pais deles, sejam agredidos com tamanha ordinarice ? Ou será que simplesmente não pensam? Chegámos ao tempo em que vale tudo para ter audiências. Será que também chegámos ao tempo em que produtor da TVI "come noku todo o dia"? Ou que director da TVI também "come noku todo o dia" ? Mudam-se os tempos mudam-e as vontades.... A minha vontade era pôr tudo na rua, limpar de vez com a mediocridade instalada no meu País, limpar o meu País desta ralé que se instalou nos poleiros e nos querem transformar em bonecos sem cérebro, que nos querem transformar em analfabetos, mostrando-nos "coisas" destas todos os dias. Não existe um responsável do Governo que PROIBA, SIM QUE PROIBA aparecerem "coisas" destas na TVI, nas lojas, pois o CD está gravado, nos espectáculos pois foram anunciados vários. Em que mundo estamos ??? Neste Mundo não quero viver, a moral é uma coisa muito bonita e não podemos abdicar dela NUNCA! ESTOU REVOLTADÍSSIMA!!! Helena Corado